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Publicações Revista IPH Especial 60 Anos Engenharia e Manutenção Hospitalar: O Compromisso para a Manutenção de Vidas

Engenharia e Manutenção Hospitalar: O Compromisso para a Manutenção de Vidas Fumio Araki

Introdução


Parabenizamos o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Hospitalar pelos seus 60 anos de fundação.

Ao saudoso mestre Dr. Jarbas Karman a nossa imensurável gratidão pela sua inestimável contribuição à área da saúde, tanto no setor administrativo, como nos técnico e científico.   

Vale aqui relembrar alguns ensinamentos desse inesquecível mestre, profundo conhecedor e incansável pesquisador, sempre com extrema dedicação em prol da segurança dos pacientes, médicos e colaboradores das instituições de saúde. 

Tivemos o enorme privilégio de frequentar, por diversas vezes, o seu escritório localizado na Rua Piracuama - Perdizes em São Paulo, e de interagir diretamente com ele, com a sua diretoria e sua equipe, escritório que, sem a menor dúvida, era um verdadeiro laboratório e centro de pesquisas técnicas hospitalares.


Engenharia e Manutenção Hospitalar: O compromisso para a manutenção de vidas


Algumas preocupações e sugestões compactuadas com o Engenheiro e Arquiteto Dr. Jarbas Karman e que continuam presentes no nosso cotidiano:
  • O hospital é uma eterna obra. Quando termina a construção já precisa ser reformada.  Um hospital moderno deve ser um eterno canteiro de obras e estar sempre em busca de reformulações e melhorias em sua estrutura.
  • Afora os erros médicos, arquitetônicos, de engenharia e administrativos, que por certo acontecem em hospitais, em maior frequência que a sua divulgação permite conhecer, é sempre surpreendente o montante de erros de manutenção e de segurança.
  • Tudo se interliga em um hospital, tudo se entrosa e interdepende. Se não acontecessem tantos "erros humanos", e se houvesse mais responsabilidade e conhecimento de causa, muitas ocorrências, tais como infecções hospitalares, ociosidade e desperdícios, acidentes e mortes, seriam evitados.
  • No Brasil, predomina a Manutenção Corretiva, que é mais cara e causa mais transtornos.   A Manutenção Preventiva, mais predominante em países desenvolvidos, previne incidentes, acidentes e até mortes.  A Manutenção Preditiva antecede a Preventiva e a Corretiva e inicia-se na fase de projetos, daí ser chamada também de Manutenção Antecipativa.
  • A Manutenção é vista, de uma forma geral, pelos Administradores Hospitalares, como fonte de despesas e não de forma preventiva que traz segurança e economia ao hospital.
  • Independentemente de ser terceirizada ou própria, a equipe de Manutenção Hospitalar deve ser composta por profissionais treinados e habilitados, pois um pequeno erro operacional pode implicar riscos à vida humana.
  • A Manutenção eficiente requer responsabilidade, disciplina e conhecimentos - de todos os que militam na Instituição - e não só da equipe técnica da Manutenção. Um grave e nocivo problema que persiste em nossos hospitais é o mal uso de equipamentos e instalações que provocam enormes prejuízos e transtornos operacionais e administrativos.
  • Os setores críticos dos hospitais devem estar providos de recursos e procedimentos que garantam a segurança e a integridade física dos pacientes, médicos e colaboradores conforme preconizados pelas normas RDC-50 e ABNT, tais como:
    • Grupos geradores e nobreaks com redundância e testes preventivos programados.
    • Proteção contra choques e descargas elétricas. 
    • Energia elétrica balanceada, aterrada e sem oscilações de voltagens.
    • Materiais de acabamentos adequados para paredes, pisos e tetos, que permitam a limpeza e assepsia com maior facilidade e eficiência.
    • Qualidade do ar ambiente com filtragens mínimas necessárias de acordo com as exigências preconizadas pela norma.  Deve haver manutenções preventivas programadas dos equipamentos de ar condicionado, rede de dutos, filtros, controles de temperatura e umidade e monitoramentos da qualidade do ar através de testes laboratoriais programados, que detectem a quantidade máxima de partículas, fungos e bactérias permitidas por unidade de volume do ar ambiente.
    • Abastecimento de água fria e quente, devidamente tratadas, próprias para consumo e sem riscos de descontinuidade no fornecimento.
    • Sistemas de proteção contra incêndio com vistorias atualizadas pelo Corpo de Bombeiros.  Rotas de fuga devidamente sinalizadas e brigada contra incêndio treinada e habilitada.
    • É muito importante o plano de contingências para situações de falta de água, de energia elétrica, de incêndios e possíveis emergências em geral.
    • Alvarás e "habite-se" atualizados que permitam a utilização da edificação, emitidos pelos órgãos competentes.
    • Rede de gases medicinais devidamente identificadas conforme norma técnica para evitar trocas indevidas, como têm ocorrido com frequência, com oxigênio e ar comprimido medicinal.   A fonte de ar comprimido medicinal, bem como as canalizações, deve garantir com a máxima segurança a pureza do ar produzido e ministrado aos pacientes.
    • Evitar "puxadinhos" sem os devidos cuidados e critérios e que impliquem sobrecargas nas instalações elétricas, nos geradores, nos chiller´s, na estrutura da edificação, etc...
    • A terceirização é recomendável para atividades-meio de forma que o hospital possa se concentrar em atividades-fim. 
    • Toda intervenção com obras e reformas deve ser planejada por profissionais habilitados, ter os projetos de reformas aprovados com alvarás emitidos pelos órgãos competentes, ser protegida por meio de tapumes bem sinalizados e a execução deve ser conduzida de forma a causar o menor transtorno possível aos pacientes, acompanhantes, médicos e colaboradores do hospital.  A circulação de materiais de construção, de equipamentos de obra, bem como de entulhos, deve ser programada e definida com os gestores administrativos e de enfermagem. 
    • Contemplar nos projetos, estratégias sustentáveis e tecnologias limpas, com medidas de preservação do meio ambiente.
    • Todos os ambientes de apoio e de suporte devem ser contemplados no projeto de arquitetura de forma a evitar equipamentos, macas, carrinhos de limpeza, carrinhos de roupas, carrinhos de nutrição, carrinhos de lixos e outros, estacionados indevidamente nos corredores de circulação.  Evitar cruzamentos de materiais sujos ou contaminados com os materiais limpos nos elevadores e corredores dos setores críticos do hospital.
    • A participação da Arquitetura, Engenharia e Manutenção Hospitalar no controle de infecção hospitalar e também no processo de certificação institucional são de extrema importância.

Recomendações finais



O mercado oferece profissionais e empresas capacitadas e habilitadas em Arquitetura, Engenharia e Manutenção Hospitalar nas suas diversas modalidades e especialidades. É sempre conveniente ter a certeza de um investimento seguro, contratando os serviços de profissionais e de empresas especializadas, que tenham condições de oferecer e atestar a qualidade e a garantia necessária para as instalações e edificações do hospital. 

Sabemos que o barato sempre acaba saindo muito caro: a maioria dos desabamentos, incêndios causados por problemas elétricos, vazamentos e infiltrações constantes, equipamentos que não funcionam adequadamente por problemas elétricos (oscilações na voltagem, falhas no aterramento, fases desbalanceadas, etc.), problemas causados pelo excesso de umidade e alta temperatura ambiente, salas cirúrgicas quentes e desconfortáveis e que não atendem às mínimas exigências de normas, e outros vários e inúmeros incidentes, acidentes e problemas técnicos que vivenciamos rotineiramente nas instituições de saúde, lamentavelmente são frutos da falta de planejamento e da negligência dos responsáveis por essas edificações e instalações.


Referências bibliográficas


KARMAN, Jarbas. Manual de manutenção hospitalar. São Paulo: Pini, 1994.

KARMAN, Jarbas. Manutenção e segurança hospitalar preditivas. São Paulo: Estação Liberdade, IPH: 2011.
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