IPH - Instituto de Pesquisas Hospitalares

Publicações Revista IPH Especial 60 Anos Jarbas Karman e a Arquitetura Hospitalar

Jarbas Karman e a Arquitetura Hospitalar Elgson Ribeiro Gomes
Engenheiro e Arquiteto Hospitalar, falecido no início de junho de 2008, aos 91 anos, dedicou toda a sua vida ao desenvolvimento de Projetos de Hospitais, aos assuntos da saúde, e aos programas de Arquitetura do Sistema da Saúde. Fundou o Escritório de Projetos "Karman Hospitais", que tem em seu portfólio mais de duzentas obras projetadas no Brasil, na América Latina, na África e na Europa. Seu projeto mais conhecido é o do Hospital Albert Einstein em São Paulo, no qual trabalhou desde a década de 1960, como consultor Hospitalar do Arquiteto Rino Levi e após a morte deste, até a data de seu falecimento, sendo o autor das duas grandes ampliações que o hospital realizou ao longo de todos esses anos.

Jarbas nos contou que estava em seu escritório, e um médico israelita procurou-o com uma pergunta: se em São Paulo caberia a construção de um novo hospital em nível de excelência. Da sua resposta nasceu o H. Albert Einstein. A primeira etapa do H. Albert Einstein, foi projeto do Arq. Rino Levi, tendo o Arquiteto e Eng.º Jarbas Karman como seu Consultor Hospitalar. 

Para saber a história do IPH - Instituto de Pesquisas Hospitalares -, devemos recuar até 1954, ocasião em que o nosso relacionamento teve origem, quando a "Comissão de Planejamento Hospitais", constituída pelos arquitetos Jarbas Karman, Rino Levi e Amador Cintra do Prado, promoveu na sede do Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB -, em São Paulo, durante uma semana, o Iº Curso de Planejamento de Hospitais. 

Os maiores profissionais do Brasil em atuação nessa na área estavam presentes. Jarbas tinha então 39 anos, deste evento brotou o primeiro livro sobre Arquitetura Hospitalar editado no Brasil, contendo as diversas palestras então proferidas sobre o assunto.

Jarbas, recém-chegara dos Estados Unidos, onde durante um ano visitou tantos Hospitais quanto pôde, muitas vezes ficando hospedado neles por um tempo, para estudá-los melhor.

Em 1977, em Tóquio, no Congresso promovido pela IFH - Federação Internacional de Hospitais - apresentou suas ideias sobre o conceito de "hospitais horizontais", sem elevadores, com três eixos, um para o público outro para o staff, e outro só para serviços gerais; o bloco de internação com área ou piso intermediário entre os dois andares de internação com o objetivo de que, ao longo dos anos, os encanamentos, pudessem ser substituídos, sem arrebentar os pisos ou os tetos do quartos etc.

Um dos congressistas, Mr. Alan, de São Francisco da Califórnia, interpelou-o, dizendo que não via razões suficientes para não colocar elevadores nos hospitais, que a rampa era perigosa, pois, um enfermeiro poderia deixar escapar das mãos a maca com o paciente, que rolaria rampa abaixo, causando um acidente. Esse argumento o levou a refletir sobre a colocação de freios nas macas.

Como outros congressistas também acompanharam a opinião de Mr. Alan, na época Presidente dos mais importantes Hospitais de São Francisco, ficou patente que as propostas do Jarbas não se aplicariam fora do Brasil, o que nos levou, todavia à consideração de que no Brasil elas eram muitíssimo pertinentes, por se tratar de um país imenso, de população crescente, e que não seria possível adotar solução de hospitais com elevadores nos inumeráveis municípios em expansão.

Jarbas colocou muito claramente as seguintes questões: que porte deveria ter um hospital novo, onde deveria ser situado na malha urbana, qual a extensão ideal de terreno, em que medida a contínua evolução dos equipamentos hospitalares interferiria em sua concepção, a quem caberia a responsabilidade da construção -aos governos ou à iniciativa privada -, deveria ser construído pequeno como um anão (que tem todas as características de uma pessoa normal, só que não pode crescer), de tamanho médio ou grande, e em que situações ou circunstâncias cada um deles se justificaria, até como abordar uma epidemia gigante etc.

Os hospitais pequenos

Em nossa opinião, o Projeto do Hospital da Guarnição do Galeão, no Rio de Janeiro, com 300 leitos, contém toda a filosofia e visão de Jarbas sobre como deveriam ser construídos os hospitais no Brasil. 

Lá estão as três rampas - de público e serviços gerais nas extremidades e a do staff médico e de enfermagem, roupas esterilizadas, etc. na rampa central, ligando o grande bloco horizontal aos andares de internação.

O público tem acesso pelo piso instersticial e caminha até a proximidade do quarto do paciente que pretende visitar, o que se torna possível com o rebaixamendo dos pés direitos dos corredores.

Entrada principal frontal, tanto para os serviços de diagnóstico e tratamento, como para a ala de internação e entrada do Pronto Socorro à direita.

***

Na antiguidade, o Hotel Dieu, em Paris, tinha sua planta em forma de roda, cujos raios serviam para separar e isolar os pacientes conforme suas enfermidades; outros hospitais tinham a planta em forma de cruz, remetiam ao conforto espiritual para os enfermos sem esperança de cura ou para os moribundos. Hoje, o mundo conta com uma malha de estabelecimentos hospitalares, de todos os tipos e tamanhos, onde diariamente nascem seres humanos com seus pequeninos cérebros, tão promissores - quantos não estarão nascendo nesse exato momento?! Esses, um dia darão seus primeiros passos e se levantarão para a grande caminhada da vida. Voltarão aos hospitais, assim seus familiares, ao longo da existência para avaliações e manutenção da saúde até o descanso final.

Se este complexo Laboratório que é o HOSPITAL é o primeiro berço de todos os seres humanos, pode ser considerado também o berço do próprio futuro da nossa espécie, e como tal o mais importante Estabelecimento da nossa Civilização. Possivelmente o mais intenso e íntimo espaço de convivência, de esperança de alegria ou sofrimento, ambiente também de respeito e tolerância, confraternização de pessoas de variadas etnias, território natural para o Ecumenismo, e comunhão de seres de todas as Raças.


Fotos: Elgson e Jarbas; andar Intersticial e projetos de Elgson Ribeiro Gomes que receberam a influência de Jarbas Karman.
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