IPH - Instituto de Pesquisas Hospitalares

Publicações Revista IPH Especial 60 Anos Futuras Tendências para o Desenho do Ensino e da Pesquisa Hospitalar

Futuras Tendências para o Desenho do Ensino e da Pesquisa Hospitalar Romano del Nord

A habilidade de antever, com previsões de cunho tecnológico, os efeitos da inovação no desenho de facilidades complexas como hospitais sempre foi o desafio mais ambicioso dos designer com interesse em pesquisa.  


Ser capaz de relacionar soluções inovadoras de design com cenários futuros é por si só um sinal de inovação e representa um talento que, em minha opinião, marcou o processo de criação das conquistas de Jarbas Karman ao longo de sua vida. Este texto é dedicado a ele, à sua paixão e ao seu espírito de "curiosidade" intelectual que sempre guiaram os desafios que assumiu dentro do design.


A pesquisa brevemente descrita neste trabalho foca o tema das mudanças significativas que afetarão, em um futuro próximo, o design dos chamados hospitais de excelência.


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Atualmente, o modus operandi, em nível tanto criativo quanto gerencial, não é capaz de integrar e harmonizar os dois pontos centrais do hospital de prática e de pesquisa - clínica e universidade - e consequentemente limita-se a propor facilidades altamente compartimentalizadas do ponto de vista estrutural e gerencial, o que certamente limita a conquista dos resultados de excelência esperados.


Falando especificamente da arquitetura hospitalar, há uma profunda ausência de ferramentas de design capazes de interpretar e controlar as implicações da inovação biomédica em suas diversas formas de pesquisa avançada, treino de especialidades, diagnóstico, tratamento e cuidado em relação ao sistema estrutural do hospital.


O atual nível de conhecimento não deixa dúvida de que o nível de interdependência e o possível efeito sinergético entre a pesquisa e o campo biomédico, a introdução de novas tecnologias, a educação continuada e o impacto sobre as práticas de cuidado tendem a aumentar.



Entre os autores que analisam possíveis cenários para o futuro do sistema de saúde (por exemplo, Francis et al., Institute for the Future etc.), há forte concordância sobre a importância estratégica da pesquisa científica que leve a conhecimentos avançados de biomedicina e, ao mesmo tempo, a importância de cursos de treinamento mais atualizados e da educação continuada para o desenvolvimento profissional do serviço de recursos humanos para médicos e paramédicos que trabalham em um ambiente de trabalho em permanente mudança onde avanços clínicos e tecnológicos são constantes e, às vezes, radicais.


O hospital, portanto, de acordo com uma noção comumente aceita que contempla as novas dimensões estratégicas do hospital do futuro, não é apenas um lugar para tratamento e cuidado, como também um lugar para criar e transmitir conhecimento médico e científico.


 

Métodos de ensino da medicina e das profissões da área da saúde


Em relação aos objetivos do ensino de cada área acadêmica é possível identificar métodos diferentes que focam respectivamente no ensino e/ou aprendizado como um elemento central pelo qual eles podem ser definidos. Quanto aos profissionais da área da saúde - médicos e enfermeiras em cursos de graduação e pós-graduação ou educação continuada - há três macro setores principais ao redor dos quais a atividade de ensino deveria centrar-se: conhecimento teórico, habilidades práticas e habilidades clínicas.


Tanto as habilidades práticas quanto as clínicas pertencem à área do ensino prático. Não obstante, as práticas estão ligadas ao treinamento e as clínicas ao aprendizado por meio de experiência e visitas a setores hospitalares onde é possível aplicar o conhecimento prático já adquirido.


O treino de médicos deveria focar particularmente na aquisição das habilidades práticas por meio de: envolvimento no planejamento de pesquisas básicas; estudo e aprendizagem das noções básicas das ciências clínicas e da semiótica nos hospitais e laboratórios; visitas a clínicas-dia em hospitais e universidades assim como os regionais; participação em programas de pesquisa durante o período de residência, preparando-se para a tese.


A partir desses pressupostos, podemos inferir os métodos de ensino das habilidades práticas e perceber como eles se relacionam tanto com a prática clínica quanto com a pesquisa.


As análises dos estudos de casos clínicos, que podem ter objetivos educacionais diferentes, são de grande importância para o ensino. Em realidade, além de oferecer inspiração e foco de variados tipos, os estudos estão fundamentados em discussões advindas de grupos de trabalho guiados por um tutor que pode atuar como ponto de partida para analisar os problemas (aprendizado fundamentado no problema) destacando a necessidade de adquirir informações mais consistentes obtidas da comparação com professores, pequenas aulas, teses, grupos de trabalho e estudo individual; ou diretamente fundamentada em uma abordagem com foco na solução de problemas clínicos (aprendizado fundamentado na resolução do problema) que certamente exige do estudante alcançar um alto nível de conhecimento.


Muitos métodos de ensino são fundamentados na transferência de conhecimento teórico e são caracterizados por darem bastante atenção a: interatividade, tutoriais, pequenos grupos e problemas reais, o que embasa e integra a forma tradicional de dar aula. Neste sentido, os métodos de ensino, segundo bordagens de professores de faculdades italianas de prestígio, podem ser resumidos da seguinte maneira: aulas magnas, tutoriais e trabalho em pequenos grupos, participação em encontros, grupos de estudo de artigos científicos, discussões de casos clínicos e participação em conferências e seminários. Aulas tradicionais que favorecem o conhecimento teórico estão cada vez mais integradas com a abordagem de ensino que pode ser definida como mais ativa e fundamentada no estudo de casos reais.


Alcança-se também o desenvolvimento e a consolidação do conhecimento teórico por meio de cursos do autoaprendizado e autoestudo tanto individual quanto em grupo. Entre os métodos mais comumente usados estão: estudo individual e atividades de leitura clássicas; consulta a manuais, livros ou revistas; atividades mais ligadas a novas tecnologias como sessões de aprendizado online e pesquisa na Internet.


Já no contexto clínico e relacional, como no ensino de habilidades práticas, o ensino passa a focar em dois caminhos: o uso de sistemas de simulação; prática em contextos e casos reais.



Simulações, que exigem equipamentos especiais, facilidades, laboratórios e espaços adequados devem sempre ser vistos como preparação para um caso real e estão ficando cada vez mais importantes para o treinamento clínico. As simulações são um recurso importante do treino, um tipo de valor agregado que torna possível promover o "aprendizado pela prática e pela descoberta". Além disso, elas são consideradas ferramentas para o aprendizado e uma forma de avaliar habilidades clínicas complexas e profissionais.

 

 

 


Uma coisa que se pode certamente inferir a partir do banco de dados internacional é a importância cada vez maior dada à conduta de pesquisa em hospitais universitários, vista a relação atestada entre pesquisa e resultados clínicos do hospital, e entre a eficiência da pesquisa conduzida no contexto do hospital universitário (com a presença conjunta de habilidades clínicas e universitárias), e com a obtenção de resultados de pesquisa e inovação no setor biomédico em nível internacional.



O desenho apropriado de espaços para pesquisas biomédicas no contexto do campus ou prédio do hospital universitário é, portanto, um fator essencial para atingir a excelência.



Entendendo a crescente importância dada, em nível nacional e internacional, ao desenvolvimento da pesquisa translacional (que aproxima o laboratório de pesquisa da prática), reconhecida como o caminho para a tradução eficaz dos resultados da pesquisa básica em aplicações clínicas, a pesquisa tornou possível identificar os principais elementos físicos e espaciais que deveriam ser reconhecidos como fatores que promovem a excelência.


 

Em relação ao desenvolvimento de linhas de pesquisa no campo da medicina, com a obtenção dos primeiros resultados do "Projeto genoma", tanto na Itália quanto em países desenvolvidos, existe um estudo comparativo em curso sobre o impacto da inovação científica e tecnológica na biomedicina (entendida em termos mais abrangentes), a organização funcional e territorial de facilidades do sistema de saúde e, consequentemente, os efeitos com gastos no sistema de saúde. As áreas estratégicas de inovação são drogas, bio imagem e tecnologias para sobrevivência. A perspectiva para o futuro é muito animadora para a biotecnologia com aplicações de grande escala e a criação de centros de excelência, colaboração e pesquisa de rede no setor.



Esse conceito comumente aceito, de que o hospital é um lugar para transferir o conhecimento adquirido entre as suas paredes e para disseminar este ao mundo exterior por meio de um sistema de interfaces e relacionamentos, tanto para dentro da comunidade de cidadãos quanto para outros centros que constituam a rede do sistema de saúde, cumpre a missão do hospital identificada pela ação do Health Promoting Hospitals promovida pela Organização Mundial de Saúde fundamentada nos princípios da "Ottawa Charter for Health Promotion", as diretrizes da "Ljubljana Charter on Reforming Health Care" e da "Vienna Recommendations on health promoting hospitals". Em resumo, as indicações e recomendações supracitadas representam as diretrizes para o engajamento em um processo de desenvolvimento estratégico com o intuito de transformar a cultura das instituições hospitalares em uma "cultura da saúde", para promover a saúde de profissionais e pacientes e advogar em favor de um ambiente saudável também em termos organizacionais, criando facilidades capazes de implementar as mudanças, adaptando-as aos possíveis efeitos.


O conjunto de indicações e contribuições para a evolução estratégica das infraestruturas para a saúde e a salubridade descritas de forma clara anteriormente tem repercussões no critério do desenho de um hospital de excelência.


Transferência de tecnologia no contexto do hospital universitário


Existem muitas formas de colaboração no campo da biomedicina entre as instituições de pesquisa (universidades, órgãos de pesquisa e hospitais) e o mundo dos negócios. Elas podem ser de quatro tipos:

  • Cooperação: contratos de pesquisa, patentes ou licenças, criação de novos empreendimentos ou spin-offs. Nesta forma de colaboração, o aporte financeiro para pesquisadores ou grupos de pesquisa vem do mesmo setor de mercado para o qual é direcionada à pesquisa básica ou consultoria de pesquisas. Instituições públicas não têm controle sobre os resultados comerciais que possam resultar da pesquisa realizada. A cooperação também pode advir de testes clínicos para comercializar um medicamento; nesse caso a universidade ou o hospital transforma-se em um local de testes, limitando a atividade de pesquisa.
  • Contratos de pesquisa: usados pela indústria para financiar pesquisa comissionada. Apesar de incentivarem o contato entre o setor de pesquisa e as empresas, consequentemente aumentando a oferta de recursos, eles podem representar uma grande desvantagem, uma vez que podem tornar a pesquisa excessivamente dependente dos interesses comerciais.
  • Patentes ou licenciamento: representam um dentre muitos mecanismos que permitem a transferência de tecnologia. Com uma patente, a instituição pode proteger as atividades de pesquisa e torná-las disponíveis para a empresa comercializá-la. Neste contexto existem organizações específicas que lidam com patentes, como o Escritório de Patentes e organizações mais complexas com funções e relações mais abrangentes com a indústria, como a Technology Transfer Office (TTO) e a Industrial Liaison Office (ILO).
  • A criação de novas empresas ou spin-offs: não obstante a sua complexidade, esta é uma forma de colaboração que vem crescendo rapidamente nos últimos anos. Dentro da nova empresa, o instituto de pesquisa pode ser sócio minoritário ou majoritário, com poder de decisão maior ou menor.
Cada forma de colaboração implica um dado grupo de relações que inevitavelmente vão ter um impacto sobre os requisitos espaciais, funcionais e organizacionais de cada parte envolvida. Essa configuração estabelece uma necessidade de antecipar, planejar e regular o uso, a criação e a distribuição dos espaços, das estruturas e infraestruturas, disponibilizando principalmente uma base que possa hospedar a organização ou entidade responsável por gerenciá-la, respeitando os diferentes métodos das inter-relações subjetivas. Além disso, em alguns casos, é igualmente essencial ter espaços adequados onde certas atividades compartilhadas, ou de natureza diferente, possam ser realizadas. Claramente isso exigiria mudanças quanto às necessidades específicas em termos de design, dependendo no tipo de colaboração escolhida. Ter a incubadora dentro do hospital, traz vantagens significativas para as empresas:
  • Permite às companhias contato próximo com um centro de pesquisa público (universidade ou outros) da qual elas podem se beneficiar obtendo conhecimento ou equipamento.
  • Permite que todas as startups da área da biológicas e similares tenham contato próximo, trazendo muitas vantagens em termos de troca de informações e experiências.
  • Permite à empresa tirar vantagem do know-how clínico de hospitais nos setores de excelência deles.


Além disso, é possível que a incubadora do hospital já tenha empresas estabelecidas. Essa eventualidade parece cada vez mais prática e comum, visto que nos últimos anos (e particularmente em um futuro próximo) muitas patentes de remédio irão vencer e é por isso que as grandes empresas farmacêuticas, que estão tentando desenvolver novas drogas, podem começar a produzir e consideram ser estratégico ter laboratórios em hospitais, pois permite uma interface com as reais necessidades clínicas sobre as quais elas poderão basear diversas atividades de pesquisa e inovação. 




Por outro lado, podemos dizer que alcançar os objetivos de excelência é também influenciado pelas características espaciais e tipológicas do prédio do hospital, ou pela sua capacidade de aguentar, mesmo por uma atitude planejada de mudança adaptativa, o ótimo desempenho das atividades ligadas à pesquisa, treinamento e cuidado com alta intensidade e especialização, assim como a capacidade de adaptar-se às mudanças em abordagens e práticas clínicas e terapêuticas induzidas pelos avanços no campo da biomedicina. Para isso, considere as mudanças relacionadas à evolução da medicina preventiva (com a consequente melhora do componente diagnóstico) e medicina personalizada (com o consequente aumento massivo dos dados sobre a saúde e informações a serem gerenciadas), e os crescentes campos de aplicação das tecnologias de imagem (não apenas no diagnóstico, como também para as terapias).


A criação de facilidades hospitalares para o treinamento e a pesquisa desenhadas para o desenvolvimento de pesquisa científica no campo da biomedicina e para treinamento de colaboradores representa um objetivo que tem influenciado algumas experiências recentes e significantes na criação de organizações de hospitais universitários.


Entretanto, apesar dos objetivos declarados para esses programas complexos também incluírem atingir altos níveis de eficiência e efetividade como prioridade, mesmo assim a criação de sinergia real entre as duas organizações que resultaram na criação de um hospital escola e de pesquisa - chamado de instituição hospitalar e universitária - não está isenta de problemas que exigem ideias sistemáticas e contribuições inovadoras para atingir uma harmonização mais sólida e efetiva entre elas.


Os aspectos-chave são a necessidade de transpor o hiato entre os diferentes métodos organizacionais, gerenciais e de financiamento de cada instituição, assim como a necessidade de ferramentas mais apuradas para fortalecer a confiança nas previsões durante as fases de planejamento de projeto e a escala estratégica do desenho e do planejamento dos projetos. 

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