IPH - Instituto de Pesquisas Hospitalares

Publicações Revista IPH Revista IPH Nº18 O jardim terapêutico

O jardim terapêutico Moya, Valentina - Cedrés de Bello, Sonia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade Central da Venezuela

Resumo

 
Neste artigo são discutidos os efeitos dos jardins sobre a saúde e satisfação dos usuários em ambientes hospitalares. A partir de uma revisão bibliográfica, foi realizada uma seleção de estudos que destacam os conceitos mais relevantes, e que tenham contribuído para o aprofundamento da compreensão dos jardins terapêuticos, apresentando alguns exemplos de projetos que incorporem estes conceitos e as teorias que os embasam. Este documento faz parte de uma pesquisa mais abrangente que tem como objetivo identificar as implicações, benefícios e as possibilidades terapêuticas do uso de jardins em centros de saúde, a fim de estabelecer conceitos de projetos a serem aplicados em um estudo de caso de residências para idosos.   

Palavras-chave: jardim terapêutico, biofilia, projeto baseado em evidência, jardins em centros de saúde. 

Introdução


Os jardins têm sido parte integrante de hospitais, asilos, centros de reabilitação, casas de repouso e nos lares que cuidam de idosos. Graças a importantes avanços da medicina, inovações tecnológicas, mudanças econômicas, sociais e culturais acerca do cuidado com a população, os estabelecimentos de saúde têm variado a sua infraestrutura, modificando também a concepção dos seus espaços exteriores. Hoje em dia existe um crescente interesse por parte dos médicos, arquitetos e pesquisadores na humanização dos centros de saúde, introduzindo novas variáveis e pesquisas focadas em repensar o design dos ambientes nos centros de saúde, que permitam influenciar na recuperação dos pacientes e no bem-estar da equipe. Um dos ambientes que tem despertado muito interesse nesse aspecto é a introdução de espaços ajardinados, tanto no interior como no exterior de hospitais, casas de repouso, centros de reabilitação e residências para idosos. Os conceitos de biofilia, projeto baseado em evidência e jardins terapêuticos se destacam entre os mais utilizados na área de design de espaços destinados à prestação de serviços de saúde. 

Biofilia


A necessidade do ser humano de se conectar com o natural e estar em contato com outros organismos animais ou vegetais é denominada biofilia, palavra que vem do grego bios, vida e philia, amor. Significa literalmente amor à vida. 

O termo foi definido por Erich Fromm, psicanalista alemão, em "... o amor apaixonado pela vida e todo o vivo, o desejo de crescimento e desenvolvimento em uma pessoa, um vegetal, uma ideia ou um grupo social" (Fromm, 1973, pág. 261). 

Posteriormente Edward Osborne Wilson (Wilson,1984), biólogo estadunidense, toma o conceito de biofilia e o aprofunda até formular uma teoria. De acordo com a teoria de Wilson, as pessoas precisam do contato com a natureza, que é fundamental para o desenvolvimento psicológico. Afirma que durante os milhões de anos em que o Homo sapiens se relacionou com o seu entorno criou uma necessidade emocional profunda e congênita em estar em contato próximo com o resto dos seres vivos, sejam plantas ou animais. A satisfação deste desejo vital tem a mesma importância que  estabelecer relações com outras pessoas. Assim como nos sentimos bem ao socializar, encontramos paz e refúgio quando vamos a um bosque ou praia, olhamos muros verdes ou quando estamos com os nossos animais de estimação. 

Howard Frumkin (1) (Frumkin, 2017) e Roger Ulrich (2) (Ulrich, 2001) entre outros, citaram E.O.Wilson em seus estudos e se referem à teoria da biofilia como uma das principais teorias que apoiam os benefícios relacionados entre a saúde e a natureza. Recentemente, no campo da arquitetura se discute o projeto biofílico, considerado uma estratégia de projeto sustentável que busca reconectar os seres humanos com o seu entorno natural. 

Um exemplo da aplicação do conceito de biofilia na arquitetura para melhorar a saúde dos enfermos é o Royal Children's Hospital, projetado por Billard Leece Partnership e Bates Smart (Bull, 2012), situado em Melbourne, Austrália, localizado em um entorno verde (figura 1). Hoje em dia, se converteu em uma referência na prestação de serviços de saúde destinada a crianças. Foram utilizados os princípios de projeto baseado em evidência, foco no projeto centrado na família, projeto sustentável, introdução da luz do dia e da natureza nos entornos laborais e sanitários, agrupamento de instalações clínicas, de pesquisas e educação. 

Figura 1. Espaço de jogos, projetado por Fiona Robbe, arquiteto paisagista, Royal Children 's Hospital /Fonte: Gollings, Jhon. (2012). (Fotografía). https://architectureau.com/articles/new-royal-childrens-hospital/#


(1) Professor de Ciências da Saúde Ambiental e Ocupacional da Escola de Saúde Pública da Universidade de Washington.
(2) Professor, Departamento de Arquitetura e Centro de Arquitetura Sanitária, Universidade Tecnológica de Chalmers 

Os quartos dos pacientes estão separados em 3 áreas (clínica, paciente e família) respondendo às necessidades emocionais das crianças. Cada criança pode personalizar o seu espaço (figura 2), além de ter vista para os pátios internos ou para o parque Royal, o que melhora a experiência do paciente e as taxas de recuperação, comprovado em diferentes estudos. Os mesmos demonstram um menor tempo de hospitalização em pacientes internados nos quartos com vista para a natureza, ao contrário do que ocorre com pacientes que estão internados em outros tipos de quartos. (Bates Smart, 2019).

Figura 2. Quarto de  paciente, Royal Children 's Hospital /Fonte: McGrath, Shannon. (Fotografia). https://www.indesignlive.com/the-peeps/bates-smarts-mark-healey-healthcare-design 


Outro exemplo é o do hospital Khoo Teck Puat, situado em Yishun, Singapura (figura 3) inaugurado em junho de 2010. O projeto arquitetônico esteve a cargo da CPG CONSULTANTS PTE LDT e o paisagismo é da empresa PERIDIAN ASIA PTE LTD, que tem certificação LEAF (Linking environment and Farming) e é ganhadora de vários prêmios. Criado sob o conceito de hospital em um  jardim e focado na sustentabilidade usando 3 princípios-chave: primeiro, elaborar os jardins de forma prática e auto suficiente; segundo, criar jardins naturais pensados nas pessoas e em terceiro lugar, implementar as características paisagísticas e ecológicas eficientes no uso de recursos e energia (National Parks Board Greenroofs.com, 2020). Desta forma, ao conseguir maximizar a criação de espaços verdes terapêuticos e oferecer um ambiente de alta qualidade, a arquitetura vincula o interior com o exterior proporcionando a visão dos jardins em ângulos diferentes. 


Figura 3. Bancos no espaco aberto do Hospital Khoo Teck Puat Fonte: https://www.ura.gov.sg/ms/OurFavePlace/events/bench/locations/khoo-teck-puat-hospital


Projeto baseado em evidência


A noção de evidence-based design (EDB) é essencial para o desenvolvimento de espaços destinados à saúde. Propõe-se que, para criar espaços para pessoas com necessidades especiais, que requerem que os espaços sejam projetados para um resultado específico, o projeto deve se basear em uma pesquisa sólida e atualizada. De acordo com o Centro de Pesquisa em Saúde, o EDB se define como  "the process of basing decisions about the built environment on credible research to achieve the best possible outcomes" (3) (The Center for Health Design, 2018).

Durante os últimos 30 anos, uma série de pesquisadores têm elaborado vários trabalhos vinculados à área de projeto sanitário, espaços abertos nos entornos da saúde e paisagens restauradoras. Roger Ulrich é um dos pesquisadores internacionais mais citados nesta área. A partir de 1979, inicia sua carreira como professor assistente pesquisando sobre a estética ambiental, onde descobre que a maioria das paisagens de natureza produziam estados emocionais positivos e ajudavam a acalmar o estresse. Seus estudos continuam sendo implementados por profissionais de design e gerentes de centros de atenção médica. 

Em 1984 Ulrich (Center for Health Systems and Design, Texas A&M University) apresentou um estudo significativo sobre a influência positiva que as paisagens têm nos resultados da saúde. Foram analisados pacientes que se recuperavam da cirurgia de vesícula. Alguns ficaram em quartos com vista para as árvores e apresentaram menos complicações, usaram doses menores de analgésicos e retornaram aos seus lares mais rapidamente em comparação com os pacientes que tinham a vista de uma parede. 

Urich, juntamente com seus colegas, desenvolveu pesquisas e comprovou a "Teoria da redução do estresse", que demonstra que 5 a 7 minutos de contato com a natureza ou vendo uma paisagem natural pode:
  • Reduzir indicadores fisiológicos de estresse.
  • Melhorar o humor.
  • Ajudar na recuperação.
De 1991 a 1999, Urich apresenta "A Theory of supportive gardens" (Ulrich 1991,1999), que tem sua origem em um trabalho conceitual anterior direcionado principalmente a aspectos arquitetônicos e de projeto de interiores de instalações de saúde, mas que foi modificado e atualizado para concentrar-se diretamente nos jardins. Mostra que a capacidade dos jardins de ter influências curativas provém, em grande parte, de sua eficácia em facilitar a recuperação da saúde e fazer frente ao estresse.

(3) É o processo de basear as decisões sobre o entorno construído em uma pesquisa confiável para alcançar os melhores resultados. O uso da pesquisa quantitativa e qualitativa para projetar entornos que facilitem a saúde e melhorem os resultados. 

Ulrich propõe que os jardins são importantes recursos atenuantes do estresse para pacientes e profissionais, além de trazer melhoras nos resultados clínicos, na satisfação do paciente e  no custo do atendimento, na medida em se cumpram estas orientações: 
  • Criar oportunidades para o movimento físico e exercicios.
  • Oferecer oportunidades para a tomada de decisões, ter privacidade e experimentar uma sensação de controle.
  • Proporcionar configurações que encorajem as pessoas a se reunir e experimentar o  apoio social.
  • Proporcionar acesso à natureza e outras distrações positivas.
A teoria também defende que uma condição necessária para que estes quatro recursos sejam efetivos é  que um jardim deve transmitir uma sensação de segurança. Se o projeto ou as características de um jardim produzirem sentimentos de insegurança ou mesmo de risco, é provável que o ambiente tenha influências estressantes, ao invés de restauradoras. E muitos pacientes, visitantes e funcionários impedirão que as pessoas submetidas a tratamento médico se sintam psicologicamente vulneráveis. 

Paralelamente, em 1995 surge a pesquisa sobre jardins em hospitais, "Gardens in healthcare facilities: uses, therapeutic benefits and design recommendations" (Cooper & Barnes, 1995), na Universidade da Califórnia em Berkeley (4). Foram estudados 4 jardins em hospitais situados na área da Baía de San Francisco, Califórnia.

Foram elaboradas entrevistas, mapeamento comportamental e análise visual. Descobriu-se que a redução do estresse, incluindo a recuperação do humor, era a categoria mais importante de benefícios usufruídos por quase todos os usuários dos jardins: pacientes, familiares e funcionários. De acordo com estes estudos, as pessoas apreciam mais os elementos tradicionais do jardim como gramados, árvores, flores e elementos de água;  90% dos usuários de jardins experimentaram uma mudança  positiva de humor após passar tempo ao ar livre.

(4) É a primeira avaliação sistemática após a ocupação do espaço exterior dos hospitais. 

Em 2008, foi proposta a "Teoria da Restauração da Concentração", que prova que a exposição à natureza restaura a capacidade de concentração após esforços concentrados que criam fadiga mental.  Esta teoria foi desenvolvida por Rachel e Stephen Kaplan (Pati e Barach, 2008) colegas e ex-alunos da Universidade de Michigan. Foi realizado um estudo com 32 enfermeiros em dois hospitais de Atlanta, após um turno de 12 horas. 60% daqueles com acesso à natureza melhoraram sua vigilância ou permaneceram na mesma, e aqueles sem acesso à natureza ou sem uma visão diminuíram 67% em vigilância. Esta pesquisa conclui que a melhoria da qualidade restauradora das áreas de recesso pode levar à redução do estresse e a um melhor atendimento ao paciente.

Em 2015, foi iniciado um estudo científico no Japão que investigou a diminuição dos sintomas depressivos e o aumento do desempenho da memória em adultos idosos, chamado "Efeitos do exercício e da intervenção hortícola sobre a saúde cerebral e mental em adultos idosos com leves problemas de memória e sintomas depressivos" (Makizako et al., 2015). (Makizako et al., 2015).

Inicialmente o ensaio foi conduzido por 20 semanas com 90 adultos acima de 65 anos de idade vivendo com problemas de memória e sintomas depressivos. Os participantes foram designados aleatoriamente para realizar 3 experiências: exercício, atividade horticultural e grupo de controle educacional. Eles realizaram um programa combinado de exercícios e atividades hortícolas por um período de 20 sessões semanais de 90 minutos. Os participantes do grupo de exercícios praticavam exercícios aeróbicos, treinamento de força muscular, treinamento de equilíbrio postural e treinamento de dupla tarefa. O programa de atividade hortícola incluiu atividades relacionadas à cultura, como o cultivo no campo e a colheita.

Resultados preliminares observaram efeitos antidepressivos em pessoas idosas com sintomas depressivos leves e sintomas clinicamente significativos de depressão, sugerindo a prescrição de exercícios estruturados com elementos mistos de resistência e treinamento de força adaptados à capacidade individual. Em relação aos resultados da atividade horticultural mostraram reduções nos níveis de agitação, considerou-se que ainda é necessário realizar estudos de intervenção bem projetados para examinar os efeitos da atividade horticultural sobre a saúde cerebral e mental (por exemplo, sintomas depressivos, função cognitiva e volume cerebral) em adultos não dementes com risco aumentado de demência.
 

O que é um jardim terapêutico?


É um espaço de jardim delimitado destinado a uma determinada população com um propósito específico. O design dos aspectos físicos e as atividades a serem desenvolvidas no jardim são baseadas na pesquisa médica. Recomenda-se que seja projetado por uma equipe multidisciplinar especializada, pois é um ponto de encontro entre a medicina e o desenho. O objetivo do jardim terapêutico é oferecer a seus usuários (pacientes, visitantes, residentes, funcionários) um lugar que contribua para melhorar suas necessidades físicas, psicológicas, sociais e espirituais, assim como ajudá-los a manter contato com a realidade e proporcionar bem-estar. 

Para Naomi Sachs (5), a definição de "jardim de cura", "paisagem restauradora" ou "paisagem para a saúde" é a de qualquer espaço silvestre ou projetado, grande ou pequeno, que favoreça a saúde e o bem-estar humano (Sachs N. , 2016). Sachs propõe que os jardins residenciais particulares também possam ser jardins de cura, embora haja uma distinção a ser feita entre jardins curativos para todos e jardins curativos para pessoas que tenham a saúde comprometida.

Figura 4. Joel Schapner Memorial Garden, Cardinal Cook Hospital, New York City. Fonte: Bruce Bruck (Fotografía) https://dirtworks.us/portfolio/joel-schnaper-memorial-garden/


Os primeiros são projetados para ajudar as pessoas saudáveis a se manterem saudáveis. Funciona como uma espécie de medicina preventiva. Entretanto, nos estabelecimentos de saúde, o processo de design deve ser realizado com a maior atenção, levando em consideração o usuário, dando preferência a projetos baseados em evidência (Sachs N. , 2018).

(5) Naomi A. Sachs, PhD, MLA, EDAC, professora assistente do Departamento de Ciências Vegetais e Arquitetura da Paisagem na Universidade de Maryland e diretora fundadora do Therapeutic Landscapes Network (www.healinglandscapes.org) 

A fim de proporcionar benefícios terapêuticos, o jardim precisa atender a uma série de características, tais como: ter uma grande variedade de plantas que se distinguem pelas mudanças de estação, assim como proporcionar vistas do céu, pequenos lagos de água, assim como árvores que podem atrair a vida selvagem, atividades programadas tais como terapias hortícolas ou de reabilitação, garantindo acessibilidade universal, ter perímetros bem definidos para que o usuário possa concentrar sua atenção nos componentes do jardim, a organização funcional deve ser clara e simples com uma estrutura ordenada da circulação para facilitar a orientação e mobilidade do usuário.

Benefícios do contato com a natureza


São muitos os benefícios do contato com a natureza, abrangendo aspectos físicos, psicológicos, sociais e pessoais. Passar apenas 90 minutos por dia em uma área arborizada reduz a depressão e passar 1 dia na natureza de forma recorrente melhora o sistema imunológico. 

Os especialistas têm registrado grandes benefícios no uso de jardins, parques e espaços verdes, tanto dentro como fora dos ambientes de saúde, como por exemplo: redução do estresse, melhora do sono, redução da ansiedade e depressão, associada ao aumento da felicidade, redução da agressividade, redução dos sintomas de TDAH (transtorno comportamental), diminuição da pressão arterial, melhora da recuperação de cirurgias, melhora da saúde geral, aumento da expectativa de vida em adultos idosos se tiverem acesso a parques e à natureza, melhora da qualidade de vida em doentes crônicos ou terminais, ajuda o paciente a evocar seus próprios recursos de cura. (Frumkin, 2017)

Estratégias de design para um jardim terapêutico


Ulrich propõe 4 diretrizes de design para a realização de um jardim terapêutico: exercício, senso de controle, apoio social, acesso à natureza e outras distrações positivas em A Theory of Supportive Garden Design (Ulrich, 2001). Além destas diretrizes básicas, a observação do autor sobre jardins hospitalares nos EUA, Austrália, Canadá e Reino Unido sugere a necessidade de considerar que para que o jardim seja utilizado e atinja seu pleno potencial, ele deve possuir as seguintes qualidades: visibilidade, acessibilidade, familiaridade, tranqüilidade, conforto e arte sem ambigüidades.

Clare Cooper Marcus, em um artigo intitulado Healing Gardens in Hospitals (Cooper, 2007), descreve alguns elementos essenciais de design e qualidades ambientais que um jardim terapêutico deve ter, e descreve os precedentes utilizados pelos projetistas de jardins de cura contemporâneos, incluindo aqueles para diagnóstico médico, onde uma série de recomendações de design por patologia foram propostas. Por outro lado, a Sociedade Americana de Arquitetos de Paisagem (ASLA) e a Associação Americana de Terapia Hortícola contribuíram para o desenvolvimento e compreensão dos elementos para o design de paisagens terapêuticas, aprovando um documento chamado Therapeutic Garden Characteristics (Hanzen, n.d.), que serve como referência para profissionais médicos e estudiosos da paisagem em relação ao bem-estar. A combinação desses elementos fundamentais representa práticas atuais para jardins terapêuticos.

Figura 5: Jardins Centro Sociosanitario Geriátrico Santa Rita / Manuel Ocaña. Fonte: De Guzmán, Miguel. (2009) https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/626312/centro-sociosanitario-geriatrico-santa-rita-manuel-ocana 


Conclusões e Recomendações


A tabela seguinte resume as estratégias de design para a criação de um jardim terapêutico, extraída da revisão bibliográfica.

Atividades programadas Promover atividades que familiarizem populações especiais, famílias dos pacientes e moradores da comunidade próxima ao jardim. As atividades que podem ocorrer no espaço exterior podem ser ativas ou passivas, por exemplo, contemplação, descanso, meditação, oração, sala de espera, exercícios de reabilitação, alimentação, leitura, passeios, caminhadas, jardinagem, terapia horticultural, ecoterapias.
Acessibilidade universal Adaptar o ambiente do jardim para proporcionar acessibilidade, facilitar as tarefas de jardinagem, melhorar a experiência do visitante permitindo que ele esteja em contato com as plantas. Os caminhos devem ser suficientemente largos, as juntas de pavimentação não devem estar levantadas e devem ser estreitas o suficiente para não prender uma bengala.
Perímetros bem definidos As bordas dos espaços e zonas especiais de atividades dentro do jardim devem ser bem demarcadas para que o usuário possa concentrar sua atenção nos componentes de cada zona dentro do jardim.   Jardins que têm áreas com funções claramente definidas e incluem indicadores de direção e localização permitem que os usuários se comportem e utilizem o espaço de forma mais independente
Abundância de plantas e interações entre as pessoas e plantas Fornecer material vegetal variado, com mudanças distintas nas folhas, cores, texturas e formas, para que as pessoas possam experimentar as estações de plantio, crescimento e floração. Proporcionar rotas com vistas abertas e fechadas, para gerar experiências de diferentes espaços com elementos surpresa.
Condições benéficas e de apoio Criar áreas de lazer ao ar livre que permitam caminhar, relaxar ou descansar em espaços sombreados, seja com estruturas de proteção como pérgolas ou com plantas, oferecer conforto pessoal e abrigo ao usuário do jardim, proporcionar configurações de apoio como corrimãos, presença frequente de bancos com apoios de braços e encostos.
Criação de lugares reconhecíveis Os jardins terapêuticos são lugares simples, unificados e de fácil compreensão. A organização funcional deve ser clara e simples, favorecendo relacionamentos, uma estrutura ordenada de circulação, continuidade e clareza da pavimentação facilitará a mobilidade e a orientação do usuário.
Dispositivos hídricos A colocação de dispositivos hídricos atrai a vida selvagem e são cada vez mais utilizados em instalações de saúde, pois podem servir como pontos de referência, elementos de orientação, bem como funcionar como distrações positivas que reduzem o estresse.
Diagnósticos médicos Um jardim terapêutico pode trazer benefícios para muitas categorias de usuários, por isso é aconselhável conhecer as necessidades médicas dos usuários e seus cuidadores para que seja possível criar espaços que possam funcionar como um meio de tratamento e atender às necessidades dos usuários, conforme apropriado.
Tabela 1. Recomendações para o design  de jardins terapêuticos. 


Algumas recomendações especiais para o projeto de espaços ao ar livre em casas de repouso, jardins de reabilitação para pessoas que sofreram acidentes cardiovasculares e jardins para pacientes com o mal de Alzheimer.

Residências para idosos
  • Um jardim da frente no térreo é recomendado para socializar com os vizinhos e um jardim dos fundos para privacidade.
  • Criar espaços de transição entre o interior e o exterior para permitir que a visão do paciente se adapte.
  • Incluir dispositivos para exercícios, pois a prescrição de exercícios ajuda a reduzir a depressão e melhorar o humor.
  • Inclui a atividade horticultural, pois proporciona bem-estar mental, a jardinagem ajuda a promover o trabalho em equipe, melhora a auto-estima e a autoconfiança.
Jardins de reabilitação para pessoas que sofreram acidentes cardiovasculares
  • Criar superfícies com declives variados, que proporcionam um espaço para aprender a andar novamente.
  • Utilizar jardineiras em diferentes alturas com bordas variadas para sentar e inclinar.
  • Incluir variedade de plantas rotuladas para reconhecimento de cor e forma, leitura.
Jardins para pacientes com doença de Alzheimer e outras formas de demência
  • É importante que o projeto e a manutenção sejam sustentáveis.
  • Proporcionar um espaço bem planejado desde o início, um sistema de rotas simples com uma única porta de entrada e saída pode ajudar os usuários a se sentirem confortáveis com o uso do espaço e minimizar o potencial de desorientação e angústia.
  • Usar plantas que possam evocar a infância e as lembranças, uma vez que a memória de longo prazo é menos prejudicada.
  • Proporcionar espaços diferentes dentro do jardim, uma área mais tranquila, com cores suaves e outra área com plantas que estimulem os sentidos.
  • Eles devem estar localizados em uma área fechada e protegida, pois os pacientes têm tendência a vaguear. A cerca do jardim deve ser feita de arbustos para que os moradores não tenham a sensação de estarem fechados.
  • A consultoria com o pessoal e os pacientes que utilizam as instalações ajuda a determinar muitos aspectos-chave para atender suas necessidades, e promove um senso de propriedade e controle.
Tabela 2. Recomendações para o design de jardins para a reabilitação de patologias especiais. Fonte: Cooper, (2007) Healing Gardens in Hospitals. 


Referências bibliográficas


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FROMM, E. (1973). Anatomía de La destructividad humana,p 261. Recuperado em 2018, Disponível em: http://www.ignaciodarnaude.com/textos_diversos/Fromm,Anatomia%20de%20la%20destruc tividad%20humana.pdf

FRUMKIN, H., (2017) Seattle Parks and Recreation: Parks, Greenspace and Human Health.(Video) Disponível em: http://www.seattlechannel.org/misc-video?videoid=x71138

GOLLINGS, Jhon. (2012). Royal Children's Hospital landscape. Recuperado em 18 de maio de 2017, de: https://architectureau.com/articles/new-royal-childrens-hospital/#

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WILSON, E.O. (1984). Biophilia, the human bond with other species. Harvard UniversityPress, Cambrige(Massachusetts).


Autoras

Valentina Moya, Arquiteta, Especialista em Arquitetura Paisagística. Escritório Tabora+Tabora/landscape architects. Email: arq.valentinam@gmail.com.

Sonia Cedres de Bello, Professora-Pesquisadora no Instituto de Desenvolvimento Experimental da Construção. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Central da Venezuela. Email: bello.sonia@gmail.com

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