Entrevistas

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Entrevista com o Coordenador Científico do Congresso de Gestão Financeira e Custos

Sérgio Lopez Bento

IPH - Quais os principais temas discutidos no Congresso de Gestão Financeira e Custos?

Sérgio Lopez Bento - O Congresso de Gestão Financeira e Custos será realizado num momento econômico desfavorável, com crescimento negativo do PIB, inflação elevada, moeda desvalorizada e taxa de juros em elevação. Este cenário desfavorável afeta negativamente todos os elos da cadeia de valor da saúde gerando, ao mesmo tempo, queda nos recursos que financiam a prestação de serviços em saúde e aumento nos custos destes serviços. Discutiremos as consequências deste cenário para o segmento, o que deve ser feito para mitigar os efeitos desta situação e como aumentar o nível de eficiência de nossos hospitais com o apoio da tecnologia da informação. Outro ponto que abordaremos é o impacto da legislação que permitiu a entrada do capital estrangeiro para hospitais e como os hospitais brasileiros devem se preparar para enfrentar este novo desafio. Como costumamos fazer em nosso Congresso, apresentaremos alguns cases de sucesso na adoção de indicadores como instrumento de gestão. Apresentaremos, ainda, duas ferramentas de apoio à gestão do corpo clínico, que começam a interessar aos hospitais: o DRG e o Payment for Performance, temas que serão abordados por dois especialistas nestas disciplinas. Finalmente, traremos dois painéis sobre o Sistema Unimed, que hoje desempenha importante papel na saúde suplementar brasileira: um abordará o movimento de recursos próprios, analisado seus resultados e desafios, palestra que será apresentada por um dos idealizadores deste movimento, e outro apresentando uma experiência de sucesso em um novo modelo de gestão numa cooperativa médica do interior do Estado de São Paulo.

IPH - Dentro destes temas, qual é a questão que o senhor acha mais relevante para o momento atual?

Sérgio Lopez Bento - Creio que o mais relevante, no momento, frente ao cenário econômico, seja a necessidade dos gestores hospitalares de entenderem esta situação, avaliarem o impacto da mesma para suas organizações e planejar quais ações devem ser tomadas para “buscar recursos dentro de casa” por meio do aumento da eficiência e produtividade em todas as áreas do hospital: assistencial, de apoio e administrativa. Uma intensa revisão de processos, associada a um esforço por informatização e automação dos processos, faz parte deste projeto, visando gerar recursos por meio de economias internas que podem ser obtidas eliminando retrabalhos e desperdícios. Outro ponto que considero crucial, este na saúde suplementar, é a mudança de foco no relacionamento entre prestadores de serviços e operadoras de planos de saúde, hoje caracterizado por intenso conflito, para um modelo que considere que as atividades de ambos são complementares, visando atender aos clientes/pacientes. Estou certo de que este entendimento será fundamental para garantir a sustentabilidade do segmento.

IPH - Como o senhor vê a gestão financeira dos hospitais frente ao novo e difícil momento econômico brasileiro?

Sérgio Lopez Bento - Embora ao longo dos últimos anos tenha havido um esforço de profissionalização da área financeira dos hospitais brasileiros, com a contratação de profissionais de outros segmentos empresariais, o que observamos em nossa atividade profissional de consultoria, com abrangência nacional, é que este esforço ainda é muito desigual, pois os hospitais de pequeno e médio porte ainda são, em sua maioria, geridos de forma quase amadora. Um exemplo desta situação é que a maioria dos hospitais brasileiros desconhece o custo de suas atividades e de seus procedimentos, pois não implantaram seus sistemas de apuração e gestão de custos. Veja que estamos falando de uma informação básica para a gestão de qualquer atividade empresarial. Como definir preços se eu desconheço o custo dos meus serviços e produtos? Como avaliar quais serviços ou especialidades o hospital deveria prioriza se eu não conheço o resultado dos mesmos? Portanto, este esforço por melhoria na gestão deve ser ainda mais priorizado num momento econômico desfavorável que o país enfrenta e com poucas perspectivas de melhora no médio prazo.

Entrevista com o Coordenador Científico do Congresso de Engenharia, Arquitetura e Logística

Antônio José Rodrigues Pereira

IPH - O que você espera deste Congresso, sobre as discussões que estão colocadas aqui, quais são as expectativas para estes quatro dias e como é que você está vendo a situação atual com relação à engenharia hospitalar?

Antônio José Rodrigues - O que eu vejo nestes quatro dias de Congresso, o Congresso Hospitalar e a Feira Hospitalar, eu acho que na verdade junta-se um público que está sedento de informações, ou seja, o cenário político econômico do Brasil faz com que a gente tente observar conforme essa palestra muito brilhante, muito bem conduzida pelo Eng. Salim, sobre recursos hídricos. Onde está colocado que nós temos que ter uma mudança de cultura dentro da sociedade? Nós temos que pensar não apenas em oferta, e sim em demanda. Como nós, como cidadãos, e aí logicamente como gestores que estão aqui, gestores de arquitetura, engenharia e administradores hospitalares, podemos fazer mais com o mesmo? Porque esse vai ser o grande dilema nos próximos anos. Como eu posso fazer mais com o mesmo?

Eu espero dentro deste Congresso é que a gente vá disseminar as informações, as informações não devem mais ficar concentradas em uma ou duas pessoas. E eu acho que o Congresso e a Federação Brasileira de Administradores Hospitalares almejam isso. E é possível você disseminar a informação com alguns interlocutores
onde, na verdade, os palestrantes e a plateia se fundem em um único objetivo: dividir informação, compartilhar informação. Quem compartilha informação, cresce e esta é a função deste Congresso, fazer com que todos tenham uma linearidade de informação para a tomada de decisões.

Entrevista com Santiago Venegas

Red de Clínicas Regionales - Santiago - Chile

IPH - Gostaria de saber como o senhor, que vem do Chile, está vendo este Congresso, a saúde no Brasil, a saúde brasileira? E o que está achando das discussões em geral que estão sendo apresentadas?

Santiago Venegas - Eu tenho a sorte de conhecer a Hospitalar há 10 anos. Eu venho, praticamente, cada ano como palestrante para discutir diferentes tópicos na gestão de saúde. Tanto a Federação quanto a Hospitalar, todos os anos, apresentam grande desenvolvimento. É impressionante o tamanho e a magnitude da Hospitalar e é muito gratificante participar da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares e do Congresso, porque é um Congresso muito bem organizado, com tópicos muito relevantes da gestão hospitalar atual e as questões que mais interessam aos administradores. Os problemas são similares no Chile. No Brasil, os tamanhos é que são distintos. Nós temos cerca de 300 hospitais públicos e privados, vocês, aqui, algumas pessoas falam em 5.500, outras pessoas falam em 7.000. Então, para nós, é muita aprendizagem poder participar ano a ano com a Federação no Congresso e na Hospitalar.

IPH - Como o senhor vê essa última palestra a que assistimos em que se falou muito de mudança de paradigmas; de mudar a atenção do hospital para a atenção primária, a atenção básica; que muitos governos se preocupam em construir hospitais e com as especialidades e se esquecem um pouco do primeiro atendimento, da saúde da família, da saúde das crianças. Como o senhor vê isso no Chile como uma proposta até de desafogar os hospitais que acabam por atender a todas as demandas?

Santiago Venegas - Acho isso muito relevante, muito importante, definir o foco correto do modelo de atenção contínua das pessoas, dos pacientes. No Chile, 70% da demanda da atenção da saúde são de atenção de baixa complexidade, atenção primária, 70%; 23% são de atenção de média complexidade, e só 5 a 8% são de alta
complexidade, portanto, precisamos ter um foco na operação em todas as unidades, principalmente na atenção primária. Agora, uma questão que aprendi em todos esses anos é que um hospital não se sustenta por si mesmo se não é parte de uma rede. Um hospital, sobretudo, um hospital de alta complexidade, tem que estar vinculado, conectado, permanentemente com um modelo de encaminhamento e retorno com as unidades de atenção de média e baixa complexidade. Isso é fundamental para o sucesso do hospital e para o desenvolvimento e incorporação de conhecimento e fluxo assistencial.

Entrevista com o Coordenador Científico do Congresso de Gestão de Pessoas & Liderança

Cláudio Collantonio

IPH - Sobre o Congresso de Gestão de Pessoas e Liderança, quais são as principais discussões propostas para o ano de 2015?

Cláudio Collantonio - O Congresso de Gestão de Pessoas e Liderança tem dois grandes fatores em termos de abordagem. O primeiro deles é uma dificuldade que o segmento saúde tem como um todo, nós temos um grande problema que nós chamamos de “apagão de mão de obra”. O que é o “apagão de mão de obra”? É a má formação acadêmica e a disputa pelo mesmo profissional por diversas instituições que ocorre principalmente na região Sul e Sudeste do Brasil. Tanto que nós trouxemos palestrantes das duas regiões para poder falar como eles estão resolvendo isso. Descobrimos nestas palestras três ações bem diversificadas: a busca de alternativas de mãos de obra, o caso exemplificado foi o caso dos haitianos que estão chegando ao Brasil; a outra foi a busca de formação na própria localidade, é melhor formar do que tentar captar no mercado esse profissional; e a terceira solução que foi apresentada para nós foi a criação dentro da instituição de celeiros de profissionais multidisciplinares para cobrir as escalas. O outro fator sobre o qual eu falei foi em termos da preparação da liderança. Nós tivemos uma proposta de
enfocar o líder como um integrante da equipe, por isso, nós abordamos equipes auto gerenciáveis. O líder, além de ter a expertise da ação dele, também precisa cuidar do relacionamento interpessoal, este passou a ser ponto fundamental, esta relação de equilíbrio é o que garantiu ao líder ter maior assertividade. Buscamos palestrantes que pudessem, primeiro, enfocar neste propósito e, depois, medir este propósito. Tanto que uma das nossas palestras de opção foram os instrumentos que hoje fazem assessment profissional para entendermos como essas ferramentas (PPA, DISC, MBTI, Insights) atuam nesse mapeamento interno das instituições.
Toda a Comissão Científica deste Congresso buscou estes dois fatores e por quê? Porque a Comissão Científica é composta por profissionais que atuam com estas dificuldades ou com estas “reclamações” em não ter um líder enfocado dentro da equipe, assim foi esse o nosso propósito.

IPH - Para um jovem que está começando os estudos em nível superior ou para um recém-formado, que conselho o senhor daria a este jovem profissional ou até a um profissional que está tentando uma recolocação no mercado. Como ele conseguiria se colocar, já que há uma demanda por mão de obra qualificada, qual seria o nicho onde ele poderia investir para ter uma possibilidade de vaga?

Cláudio Collantonio - Hoje, eu diria que houve uma migração da década de 90 para esse novo modelo que nós praticamos. Houve uma época em que o nome da instituição acadêmica pesava muito, hoje eu diria que não é tão importante o nome da instituição acadêmica. Mas é muito importante a prática aliada ao conhecimento teórico, quando o profissional consegue conciliar os dois, ele vem mais bem preparado para o mercado. No segmento de saúde, onde é a porta de entrada? Primeiro, os programas trainees. Praticamente todas as instituições de porte do segmento de saúde têm modulado programas trainees para o técnico de enfermagem, para o enfermeiro, residências para profissionais médicos e para outras profissões que exigem residência, como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais. Então, a grande porta de entrada é a absorção do conhecimento por meio de programas trainees e estágios durante o curso de formação, porque esta experiência já conta na hora da contratação. Eu acho que este é o grande caminho.

Entrevista com o Coordenador Científico do Congresso Gestão em Saúde

Gonzalo Vecina Neto


IPH - Os processos de saúde se apoiam nos processos administrativos, quais as estratégias para envolver a equipe médica nestes processos administrativos?

Gonzalo Vecina - Esta é a pergunta de um milhão de dólares. Como integrar o médico no processo de gestão e como integrar o médico no processo de atenção, essa coisa do cuidar que nós estávamos discutindo agora, cuidar para curar. É obvio que o médico é um profissional singular nesse processo, porque ele, dentre os profissionais, é o que realiza a atividade de diagnóstico e tratamento e isso o torna singular. Por outro lado, principalmente nos hospitais privados, quando você tem um corpo clínico aberto, essa dificuldade é uma dificuldade mais importante ainda. Nos hospitais públicos e nos hospitais privados, que trabalham com um corpo clínico fechado, existe um conjunto de regras que você pode adotar. E eu vejo isso também nos hospitais privados que trabalham com um corpo clínico aberto nas unidades fechadas. Geralmente, nas unidades fechadas, tipo U.T.I., você trabalha com corpo clínico fechado contratado, daí essa integração do médico na equipe, ela tem menos dificuldade, para não dizer mais facilidade. Mas nesse sentido, e levando em conta esses diferentes graus de dificuldade para integrar o médico à equipe, nós temos visto esta ideia que foi citada aqui, o cuidado focado no paciente com diferentes graus de profundidade. E como disse o nosso Osvaldo*, levar as coisas ao paciente em vez de levar o paciente às coisas, com limitações é obvio, é algo que nós temos que perseguir. A mesma coisa tem que acontecer em relação à equipe, quer dizer, nós temos que pensar que, para um melhor cuidado para curar, nós temos que repensar a divisão de trabalho na área da saúde, nós dividimos muito o trabalho na área da saúde. De tal forma que, hoje, você tem o cara que empurra a maca, o cara que tira o paciente da maca, o cara que põe o paciente na maca, uma divisão de trabalho doida. Então a responsabilidade pela atividade de vida diária é da enfermagem, a responsabilidade pela fisioterapia respiratória é do fisioterapeuta. E aí o paciente fica muito agendado e o cuidar vai para o vinagre. Você fica só com a ideia do curar, e o cuidar é tão importante quanto o curar. A ideia que está hoje em alguns hospitais, nos Estados Unidos e na Europa, já é a de focar no paciente, em que o profissional repensa o seu espaço de trabalho. Aquele que está próximo do paciente é aquele que vai executar o cuidado que ele necessita no momento em que ele precisa que aquilo seja feito, pede para aquilo ser feito. Esta ideia exige uma reorganização do processo de trabalho, um agendamento do processo de trabalho e a criação de novos pactos de trabalho dentro da unidade de internação. Isso é possível levar para dentro da atenção primária também, quer dizer, com processo de atendimento diferenciado. Na verdade, é um processo de atendimento diferenciado que você está fazendo, mas exige um pacto entre a equipe de profissionais. E o médico tem que entrar nesse pacto. Isso é bem mais fácil com a equipe multiprofissional, o médico tem que ser incorporado. Esta é a ideia de gestão do cuidado que tem que ser disseminada na equipe e o médico tem que comprar este projeto, é possível, mas não é fácil.

*Osvaldo Artaza Barrios - Organización Panamericana de la Salud - México.

Depoimento da Coordenadora Científica do Congresso de Hotelaria Hospitalar

Teresinha Covas Lisboa

O tema central dos congressos é “Saúde Integral” e o Congresso de Hotelaria procurou atender a esta visão. Os temas estão focados no planejamento para atender, no atendimento direto ao paciente sob a ótica administrativa, analisando o espaço físico e a hospitalidade voltada para a humanização. Teremos a oportunidade de conhecer a visão internacional da hotelaria hospitalar, bem como na Inovação e Expansão de Hospitais no Brasil. O importante é que poderemos conhecer as experiências de profissionais de renome nacional e internacional.

A questão está direcionada para o tema central, ou seja, “Saúde Integral”, em que as visões administrativa, técnica e de humanização estarão presentes em todas as palestras.

A Hotelaria Hospitalar está sendo implantada nos hospitais públicos e adaptada à realidade de cada região. Já possuímos colaboradores capacitados para assumirem esta área, desde o gerenciamento até o nível operacional.

 Essa preocupação é evidenciada pela participação de funcionários e de empresas terceirizadas nos congressos e cursos referentes à área. Assim como na visão de acolhimento do paciente atendido pelo SUS. O próprio HumanizaSus propicia essa implantação.

“A Política Nacional de Humanização existe desde 2003 para efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários” (Ministério da Saúde).

Entrevista com o Coordenador Científico do Congresso de Qualidade e Segurança do Paciente

Antônio Carlos Onofre de Lira


IPH - Nós gostaríamos de um panorama geral. Quais são as suas expectativas para este congresso, o que você vai discutir especificamente na sua fala e, também, uma ideia geral do que é que você espera para este evento de 2015.

Antônio Lira - Bem, começando pelo fim, acho que o evento da Hospitalar em 2015 reforça a importância da área da saúde. Acredito que cada vez mais o Congresso em si, a Feira em si, traduz não só a importância, mas o crescimento da área no nosso país e a influência do nosso país como referência para países irmãos, sobretudo aqui da América do Sul, e países de língua portuguesa. Então, penso que este é um contexto bastante interessante para nós que participamos desta Feira há alguns anos.

Em relação à questão específica do Congresso, estou na coordenação e na presidência científica do Congresso de Qualidade e Segurança do Paciente. Pela segunda vez, estou à frente deste Congresso, desse desafio. O Congresso deste ano, em certo grau, complementa o Congresso do ano passado, quando nós tínhamos um Congresso mais voltado para discutir avanços de segurança do paciente no mundo de um modo geral. Dar uma tinta importante, pelo menos chamar mais atenção, às metas internacionais de segurança do paciente, que é um compromisso da Organização Mundial da Saúde, dentro desta lógica do reforço, praticamente do lançamento do Programa Nacional de Segurança do Paciente que aconteceu em 2013 e do qual nós fazemos parte. Eu represento a instituição Hospital Sírio Libanês, Sociedade Beneficente de Senhoras do Hospital Sírio Libanês, estou como superintendente técnico hospitalar, e para mim é muito honroso estar à frente deste Congresso e desta participação.

Este ano, nós estamos renovando um compromisso com a transparência, particularmente o compromisso da abertura dos dados, da discussão dos dados de cada instituição. Estamos com essa bandeira apoiando que cada vez mais as instituições de saúde têm que estar transparentes para o paciente, para a sociedade de um
modo geral. Acho que este é um momento muito importante do Congresso, reforçamos a questão da segurança do paciente, mas agora tentando fotografar não só as metas internacionais, mas o quanto que - na prática da instituição - a questão da segurança no cotidiano da instituição pode ser retratada. Então a gente tem uma fotografia, uma conversa num painel bem interessante, sobre cultura de segurança que é uma forma de medir o quanto a segurança está inserida na prática da instituição.

Temos ainda uma abordagem, um aprofundamento, sobre a questão da rastreabilidade dos medicamentos que sempre é um tema importante relacionado à segurança e à qualidade do paciente. Pois erros relacionados aos medicamentos de um modo geral são os eventos adversos mais comuns que acontecem. Então acho que tem uma palestra bastante importante. Reforçamos a questão da saúde integral, tentando sair do ambiente hospitalar, vamos chamar assim, e, como em toda cadeia de cuidado do paciente, a segurança pode se fazer presente e como esta segurança se torna um elemento, um dos pilares para a integralidade do cuidado.

Por fim, temos a abordagem de um panorama geral sobre segurança do paciente no país e na América Latina com a palestra do nosso colega colombiano sobre processo de acreditação naquele país. Além disso, um painel específico sobre segurança no ambiente hospitalar com viés mais de infraestrutura de processos e de informatização, alertando inclusive para esta última, discutindo como uma tentativa de melhoria de segurança pode, muitas vezes, trazer elementos de risco que a gente precisa conhecer. De um modo geral, é este o panorama deste Congresso e eu acho que a Feira em si está novamente bastante potente e bastante interessante para todos.

Entrevista com o Presidente da FBAH

Valdesir Galvan

IPH - Quais são os planos da FBAH para os anos de 2015 e 2016? Como você vê as discussões que estão em pauta no Congresso? Sabemos que há questões bastante sérias na saúde brasileira, financiamento, a situação dos planos privados muito onerosos, a crise econômica que afeta a todos, não só a área da saúde. Entre um dos administradores da área da saúde e como presidente da Federação, como você percebe este momento atual no Brasil? E os parceiros, entre os latino-americanos, acredito que seja um ganho esse diálogo latino-americano, como você vê a busca de soluções para a Saúde?

Valdesir Galvan - O grande foco de discussões deste Congresso é exatamente esta crise econômica pela qual o país passa. Então o ser humano acaba focando na crise e esquece da grande oportunidade no Sistema de Saúde. Porque, se formos olhar do ponto de vista do financiamento, o Sistema de Saúde Público no Brasil
está em crise há muito tempo. Ele é subfinanciado, ele vem enfrentando todas essas dificuldades. Por isso, eu vejo que é uma grande oportunidade de sair da zona de conforto, já que estamos discutindo exatamente isso, e fazer a coisa diferente. Porque fazendo da forma que estamos fazendo nesta crise, se não mudarmos essa forma de fazer, realmente nós vamos sentir muito mais a crise. Então o que tem que ser feito é exatamente buscar outras formas de fazer gestão, rever processos, rever modelos. Acho que o Brasil está precisando, hoje, rever o modelo de remuneração, tanto na saúde pública quanto na privada. Acredito que o público-privado tem que ter uma parceria maior, uma integração maior. Acho que o público-privado pode contribuir bastante com a saúde pública e, principalmente, com o modelo de remuneração. O modelo de remuneração não está satisfatório para ninguém. Nem para quem paga a conta e nem para quem recebe o serviço, então ele está meio sem controle. 

No privado você vê aí recentemente a situação da chamada máfia de órteses e próteses que é um mercado que sempre existiu, uma hora é na cardiologia, outra na ortopedia, outra hora é na oncologia. Como sempre tem isso, eu acho que é o momento de se discutir a forma de remuneração. Porque durante muito tempo os hospitais se concentraram em cima de ganhos em materiais e medicamentos e esqueceram um pouco da hotelaria. Por quê? Porque também os planos de saúde na outra ponta não reconhecia esse trabalho, a infraestrutura dos hospitais remunerava muito pouco, então os hospitais acharam a saída nos materiais e medicamentos.

Do ponto de vista público, acho que o subfinanciamento está muito claro. O SUS, o formato dele, a tabela do SUS está condenada, porque é impossível hoje. Eu não conheço nenhuma instituição que sobreviva do SUS, não consegue se manter, porque o valor que as instituições recebem de remuneração é 30% dos custos. Então, de cada cem reais que custa um procedimento, o SUS paga trinta reais. Ou seja, você tem que arrumar mais setenta reais de outra forma para cobrir esse custo. Eu acho que esse é um grande questionamento que o Sistema de Saúde passa no momento para discutir este modelo, mais especificamente do ponto de vista do financiamento. Nós temos ainda a dificuldade do acesso, nem todo mundo tem acesso ao Sistema de Saúde adequado, temos acompanhado muito isso na mídia que tem filas, a dificuldade de agendar consultas por falta de médicos. Por isso, acredito que é o momento de rever este modelo. Neste Congresso, a Federação entrou exatamente nesse sentido para discutir um pouco esses modelos, discutir um pouco a situação atual. Cabe a nós, gestores, encontrar uma saída para essa situação toda, pelo menos tentar achar uma situação mais confortável.

Entrevista com o Presidente do 38º Congresso

Paulo Roberto Segatelli Camara

IPH -
Como parte do 38º Congresso Brasileiro de Administração Hospitalar e Gestão em Saúde, o IPH entrevista o Sr.Paulo Câmara, presidente do Congresso, sobre a sua visão sobre o evento e as propostas da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares.

Paulo Câmara - Primeiro eu gostaria de agradecer a vocês do Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas Karman, que sempre nos deu a honra e a participação em vários eventos da Federação, parceiro de longa data. Registro aqui nosso agradecimento de toda Diretoria da Federação nessa participação tão importante dessa entidade que sempre representou o que somos hoje, que é o profissionalismo na gestão de saúde deste país. O IPH sempre pensou nisso e nós continuamos esse projeto dentro da Federação, que é a profissionalização da saúde em todos os termos, em todas as áreas da gestão, seja arquitetura, gestão, médica, de enfermagem. Este ano nós estamos com um tema, que sob o meu ponto de vista, é muito interessante: Saúde Integral.

Pensar a Saúde Integral é muito mais amplo do que pensar a saúde de hospitais. Nós estamos propondo reflexões sobre o meio ambiente, o tratamento de água, o reaproveitamento, a reutilização de água que nós estamos tão carentes, principalmente aqui na nossa cidade de São Paulo, na poluição, nos transportes, nos meios
de locomoção da população brasileira. Hoje, os nossos funcionários da área da saúde, e outros também, perdem duas ou três horas no trânsito e isso gera um desgaste na saúde da pessoa. Trabalhar uma alimentação melhor, uma alimentação mais adequada, quer dizer que nós estamos pensando em Saúde Integral, uma coisa muito ampla para a população. Nós achamos que só vamos resolver a saúde se a gente pensar a saúde nesse sentido amplo. Com tratamento de água adequado, tratamento de esgoto. Porque se você não fizer isso, nós não vamos ter saúde e vai ser muito difícil segurar os custos para fazer tratamentos se nós não fizermos essas prevenções nesse início. Por isso, Saúde Integral. Então nosso início é Saúde Integral: Planejar para atender. Planejar. No nosso ponto de vista, nós temos que melhorar muito o planejamento de saúde no país, temos que aproveitar melhor os recursos, praticamente você não vê nenhuma estrutura de saúde trabalhando em rede, hoje, cada entidade de saúde, no meu ponto de vista, trabalha de forma independente, ela não tem ligações com outras unidades de saúde. E para que o sistema de saúde comece a funcionar em nosso país e em outros também, é preciso pensar em trabalho em rede, toda a rede de saúde se conectando, uma encaminhando e reencaminhando para outra, para que a gente possa atender bem a nossa população.

Hoje, por exemplo, muitas vezes uma pessoa procura uma unidade de saúde, mas depois ela não consegue dar continuidade ao seu tratamento porque não há essa conexão, esse trabalho em rede, e todo o trabalho fica prejudicado. Consequentemente, não há o término no tratamento dessa pessoa, ou seja, na reabilitação, ou seja, no diagnóstico. Ela só tem a primeira consulta, muitas vezes só emergência, muitas vezes ela busca a emergência erroneamente por não ter acesso às unidades de saúde. É por isso que nós pensamos em planejar para atender, porque também achamos que a nossa população não está sendo bem atendida. Hoje, ela fica em filas de anos para fazer uma cirurgia de hérnia, o idoso fica anos e anos na fila para fazer uma cirurgia de catarata. A gente vê maternidades superlotadas, mães dando à luz em ambulâncias, recepções, então eu acho que nós temos que repensar, replanejar, planejar a saúde para poder atender a população brasileira que, em minha opinião, ainda está muito mal atendida em praticamente todas as regiões do nosso país – apesar de já termos evoluído bastante. Eu viajo muito, conheço muitos lugares, muitas unidades de saúde, públicas e privadas, UPAS, UBS, e eu vejo que as dificuldades estão em praticamente todos os Estados do Brasil.
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