IPH - Instituto de Pesquisas Hospitalares

Publicações Revista IPH Revista IPH Nº 13: Anais Eficiência

Capa revista 13
Eficiência Ana Luiza D'Ávilla Viana
No relatório da OMS de 2010, a questão da eficiência é tratada como prioridade para atingir a cobertura universal, pois as estimativas mostram que 20-40% de todas as despesas em saúde são desperdiçadas devido à ineficiência. Dessa forma, todos os países, independentemente do seu nível de rendimento, podem tomar medidas para reduzir a ineficiência, o que requer uma avaliação inicial da natureza e das causas das ineficiências locais. Para a OMS, a eficiência é "uma medida da qualidade e/ou quantidade dos produtos obtidos (ou seja, produtos ou serviços de saúde) para um determinado nível de fatores de produção (ou seja, custos). Cetin e Bahce (2016) publicaram um estudo no qual avaliaram a eficiência dos sistemas de saúde dos países da OCDE, usando 7 variáveis de input (número de médicos, número de enfermeiros, número de leitos, gasto em saúde per capita, gasto em saúde com % do PIB, número de aparelhos de ressonância magnética, taxa de uso de tabaco) e 2 variáveis de output (expectativa de vida ao nascer e mortalidade infantil). Os resultados mostraram que a eficiência varia bastante entre os países da OCDE e que os sistemas de saúde mais eficientes são os do Canadá, da República Tcheca, da Islândia, da Irlanda, de Israel, do Japão, da Coreia, da Polônia, da Eslovênia, da Suécia e do Reino Unido. Os demais países possuem sistemas de saúde considerados ineficientes. 

Ozcan e Khushalani (2016) publicaram outro estudo para examinar as mudanças na eficiência dos sistemas de saúde em 34 países da OCDE no período 2000-2012. Vários desses países (14) realizaram reformas nos seus sistemas de saúde nesse período e o artigo traz uma tabela onde é possível ver a natureza dessas reformas em cada um deles. O estudo usou um modelo que separa os sistemas de saúde em dois componentes: saúde pública (ações coletivas) e atenção médica (individual). Os resultados mostram que os países que realizaram reformas em seus sistemas de saúde apresentaram mais ganhos de eficiência quando comparados aos que não o fizeram. No entanto, esse ganho de eficiência se deveu, sobretudo, ao componente da saúde pública. Os autores recomendam que ganhos adicionais de eficiência poderão ser alcançados por meio de redução no input do componente de atenção médica. Num artigo sobre os determinantes da eficiência do sistema de saúde do Canadá, Allin, Grignon e Wang (2015) concluíram que o sistema canadense possui grandes ineficiências (variando de 18 a 35%), as quais são resultados de 3 conjuntos de fatores: fatores relacionados à gestão (como readmissões hospitalares), fatores ligados à saúde pública (como taxas de fumo e obesidade) e fatores ambientais (como renda média da região). Na publicação OECD Health Statistics 2014 - How does Brazil compare? Resumidamente, temos os dados do Brasil. Resumidamente, eles mostram que:

  • Gasto em saúde: gasto em saúde como % do PIB no Brasil é igual à média dos países da OCDE (9,3%). Entretanto, em termos per capita, o gasto anual é de apenas 1/3 da média dos países da OCDE (1109 USD no Brasil contra 3484 USD na OCDE). 
  • Público x privado: o gasto público no Brasil corresponde somente a 46% do total, nível bastante inferior à média dos países da OCDE (72%). É menor ainda que nos EUA (48%), Chile (49%) e México (51%), os três países da OCDE com a menor participação do gasto público. 
  • RH: o número de médicos por 1000 habitantes era de 1,8 no Brasil (em 2010) contra 3,2 na OCDE (em 2012). O número de enfermeiros por 1.000 habitantes é ainda pior: 1,5 no Brasil (em 2010) contra 8,8 na OCDE (em 2012). 
  • Leitos hospitalares: o Brasil possuía 2,3 leitos por 1000 habitantes em 2012, o que é menos da metade da média dos países da OCDE para o mesmo ano (4,8). 
  • Expectativa de vida ao nascer: embora o Brasil tenha aumentado a expectativa de vida em 19 anos desde 1960, atingindo 73,7 anos em 2012, ainda está 6,5 anos abaixo da média da OCDE (80,2 anos) .
  • Mortalidade infantil: grande melhoria na taxa de mortalidade infantil no Brasil, que caiu de 51,6 por 1.000 nascidos vivos em 1990 para 12,9 em 2012; mesmo assim, é 3 vezes maior do que a média da OCDE (4,0 por 1.000 nascidos vivos).
  • Obesidade (fator de risco para muitas doenças): cresceu em todos os países, mas a situação no Brasil (18% da população) é pior do que a média dos países da OCDE (15%).


Ana Luiza D`Ávila Viana é economista. Iniciou o curso de economia na FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) da Universidade de São Paulo em 1968 e se formou em 1974 na Faculdade de Ciências Econômicas e Políticas da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Concluiu o mestrado em economia em 1981 e o doutorado em 1994, ambos pelo Instituto de Economia da Unicamp (Universidade de Campinas). É professora aposentada da USP, onde lecionou, de 2002 a 2015, no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina. É orientadora do programa de pós-graduação desse departamento (orienta, atualmente, sete teses de doutorado).
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